O sofá maldito de Shah Jahan.


Ele controla o mundo do sofá da sala, e que sala! Equipada com uma acústica de som double surround, todas as caixas embutidas em um acabamento de rebaixamento de gesso; a mesa de centro possui um vidro temperado que não fala português, assim como todas as bebidas que ficam expostas para as visitas, que sempre surgem para puxar seu saco, pois gente que tem muito dinheiro é isso aí, tem tanto baba-ovo quanto dinheiro na Suíça.
A decoração da sala é no estilo do mais puro requinte indiano, o sujeito sentado no sofá quis criar um Taj Mahal dentro de casa, e conseguiu. Aliás, ele se sente o próprio imperador Shah Jahan, pois só sabe dar ordens para os seus empregados/servos; a expressão "por favor" não existe em seu vocabulário, mas isso é normal para quem já nasceu dando ordem nas pessoas.
Por falar nisso... O nome Shah Jahan quer dizer rei do mundo, em persa, e não existe alcunha melhor para eu chamar o meu personagem central, até porque ele não possui nome, não possui face, só possui súditos, poderes e status, e no Brasil isso já é mais do que suficiente.
Sentado no sofá maldito ele bebe o seu whisky  envelhecido por décadas, e há décadas é Shah Jahan que dá as cartas do jogo, o tabuleiro, por sinal, fica na sua sala, ao lado do sofá.
Shah Jahan é o cara que manda prender e manda soltar, é ele que diz se determinado projeto de lei vai ser aprovado ou não, é ele que escolhe o político que irá lhe representar, a emissora de TV que irá propagar a sua filosofia, é ele que decreta quais serão as principais notícias da mídia; enfim, ele manda em tudo! E é por isso mesmo que a sua diversão favorita é sentar-se em seu sofá, ligar sua TV - que ocupa toda a parede da sala - e rir, apenas rir. Ah! Um dos seus capítulos favoritos desse reality show macabro é quando ele vê a população dizendo que o presidente do país é que manda em tudo, ele ri de ter cólicas.
Shah Jahan também acha graça da morosidade do povo, que diariamente luta entre si por conta de seus mandos e desmandos, ele já cansou de dizer que irá morrer sem entender porque as pessoas ainda não se conscientizaram que estão sendo manipuladas desde o momento que acordam até o momento em que vão dormir, depois de um dia extremamente desgastante e humilhante. Ele sabe que seu império poderá ruir apenas com um assopro, caso todos os cidadãos resolvam realmente se unir em prol de um objetivo comum, mas esse é o grande problema: Shah Jahan conseguiu com que as pessoas ficassem extremamente individualistas, a maioria só pensa em causa própria, e povo desunido é sinônimo de povo fraco, e povo fraco garante o império do homem sem face e sem nome. Por conta disso, ele sabe que o seu império irá durar por infinitas gerações, certamente seus filhos e netos terão muito mais poder do que ele tem hoje.
O mais irônico de tudo isso é que Shah Jahan sabe que quando sair de seu Taj Mahal e for para a rua, a população irá realmente tratá-lo como um verdadeiro imperador, afinal, ele tem cara de homem de família (a tradicional brasileira), anda bem arrumado, é bem asseado, fala bem, é caucasiano, é cristão, não está envolvido em escândalos, possui um sorriso cintilante que irradia luz por onde passa. Definitivamente, não há porque desconfiar de um ser como este. 

Bruno Rico.

Pelos nossos.


Por Frida não me Kahlo!

Por Steve faço Biko
se mexerem com meus irmãos.

Por Malcolm enfrentarei o X da questão,
principalmente se envolver opressão.

Por Martin serei o King do meu tempo,
e não aceitarei homem algum como Senhor.

Por Desmond buscarei o meu Tutu,
mas sem passar por cima de cabeças.

Por Chica não serei só mais uma Silva,
pois ninguém impedirá o brilho da minha estrela.

Por Antônio serei o Conselheiro
de quem nunca foi ouvido.

Por Virgulino serei o Lampião
dos que só enxergam sombras no caminho.

Pelos nossos serei sempre carne dura,
pois fraqueza nunca foi o nosso forte.

Bruno Rico.