Guerras de ninguém.


Não vejo luz.
Não! De fato não vejo.

Vejo apenas os algozes dos corpos
Estirados no chão
Já em completa decomposição.

Ao lado da minha casa
A fogueira queima os corpos
De prováveis delatores.
A fumaça preta sobe
Anunciando as dores dos pecadores.

Logo em frente
Vejo as crianças
Crescendo sem esperança,
Seus olhares
Não transmitem mais pureza,
Pelo contrário,
Todas parecem buscar
Por algum tipo de vingança.

É a guerra do horror.
É matador matando matador,
É delator entregando delator,
É traidor traindo traidor,
É pecador julgando pecador.

É lutador guerreando sozinho
Uma batalha já sem valor;
E mesmo que alguém caia
No último round,
Quem ficar de pé não será
Mais o vencedor.

São os frutos do desamor
Lutando a guerra
Que ninguém mais lembra quem criou.
Eles cresceram sem os pais,
Nunca saborearam a paz
E ninguém se incomodou,
Até que alguém sangrou.

E quando o sangue
Alheiro é combustível
Para a ebulição da guerra,
É porque precisamos
Urgentemente de uma nova era.

BrunoricO.

Enquanto lutarmos sozinhos
Por um objetivo comum
Não chegaremos a lugar nenhum.

Desregrado e desafinado.


Sem reticências e sem ponto final,
Este é o amor que consome
Vísceras e neurônios,
Este é o amor que destrói anjos
E constrói demônios.
Este é o amor de inúmeras vertentes
Que jamais conseguirá ser lacônico.

Às vezes nos perguntamos por que amamos tal pessoa,
Às vezes nos perguntamos por que tal pessoa nos ama,
E muitas vezes nos questionamos
Por que tal pessoa não nos ama.
Às vezes amamos quem não nos apetece,
Às vezes odiamos quem realmente nos merece,
(pois é, acontece).

É assim o amor...
Às vezes injusto.
Mas quem quer saber?
Estamos ocupados demais amando,
Ou procurando um amor para a vida inteira;
Não queremos saber de justiça quanto a isto.
Não há tribunal que condene o ato de amar.
Mas existe o amor que nos prende
Em grades imaginárias
E nos faz padecer como se estivéssemos
No corredor da morte
Esperando pela cadeira elétrica.

É assim o amor...
Que às vezes segue nas batidas
Lentas e compassadas de um coração,
E às vezes segue nas batidas
Aceleradas e descompassadas deste mesmo coração.
O amor verdadeiro é totalmente sem regras,
Pois se assim não fosse, não seria amor.

O amor de que escrevo não possui definição,
Não é detentor de razão
E muitas vezes é guiado somente pela emoção.
O amor de que escrevo é o sentimento sem fim,
É o elo de dois mundos que se funde
Muitas vezes em uma só pessoa,
Fazendo nascer assim
A desdita da desilusão.
O amor de que escrevo é o amor desregrado,
Desgarrado, desajustado e desatinado,
É o amor que horas parece soar como uma bela canção,
Horas parece desafinado.


BrunoricO.

Congele-me, congênere do dia.


Cheios de sonhos
Eles deixam seus lares.
O dia se apresenta frio e sem dó,
Enquanto a solidão amanhece estampada
Na face de milhares.

O passo é sem tino,
O pensamento sem prumo,
Pois o destino não aparenta bom rumo.
Mas o dia não espera,
O dia nunca vai esperar.

As almas se aquecem no sol
Que surge pela tarde.
Mas logo o sol irá partir,
Deixando solitários os corações
Corajosos e também os covardes.

Os apaixonados se perguntam
Por que o amor mudou,
Por que o ardor acabou,
E por que a correria da vida
Transforma o útil em descartável.

Quando menos se espera
É o fim de mais um dia, e volta toda a correria.
As ruas voltam a se entupir com a multidão carente.
É tanta gente no meio de tanta gente
Que carece de gente,
Que chega a ser incoerente.

Alguns se perguntam
Por que alguns não se encontram.
Às vezes até se encontram,
E se amam pela noite,
Mas quando amanhece o encanto adormece,
Pois é mais um dia hodierno
Que contraditoriamente se anuncia congênere,
Mas alguns insistem em chamar de novo.
É tão novo que amanhece igualmente frio e sem dó
Estampando solidão na face de milhares.
Exatamente como ontem,
E possivelmente igual ao amanhã,
Mas mesmo assim ainda tenho que esperar para ver,
Oh tortura!

BrunoricO.

Garatujas mundanas.

Queria efundir meus desejos
Em redomas perpendiculares
Que explodissem pelos ares
Assim que tais ambições
Não fossem outorgadas.

Cansei-me de ver
Coisas que não posso mudar,
Fadiguei meus neurônios
Na ilusão de achar
A cura para o mundo.
Não há antídoto para um veneno
Que já faz parte do sangue
Do infectado.
Há os que nem querem
Mais ser curados,
Haja vista o tempo
Em que já estão contaminados.

Não me adaptei
Ao que dizem ser plenamente adaptável.
Talvez eles estejam certos
E eu é que esteja errado.
Talvez o mundo tenha sido
Criado para andar de ré
E ser isso que realmente é.

Queria não ter essa visão crítica
Que tenho, e não me abstenho.
Talvez fosse melhor
Viver a ver novela,
Pensar como um néscio
E achar a vida sempre bela.

Queria não ser diferente,
Para ser igual a toda essa gente
Que acha louvável ser imprestável.
Queria abdicar do que sou
Para ser igual aos demais,
E quem sabe assim ter um pouco de paz.

BrunoricO.