Mesmo que ninguém me leia.

Quero escrever,
Mesmo que ninguém me leia,
Mas eu quero e preciso escrever.

Quero dar asas a pensamentos
E sentimentos que me invadem por completo.
Quero que as palavras saiam
De minha alma e alcem rumo
Ao voo da liberdade,
Quero a paz das palavras
Escritas com verdade.

Quero que madrugadas em claro
Virem poesias,
Quero que a alma de um poeta
Seja valorizada algum dia.
Quero poetizar tudo,
Inclusive as utopias.

Sonhos improváveis escreverei,
Situações inimagináveis descreverei,
Serei eu o poeta das aventuras e desventuras,
Mesmo que ninguém me leia,
Ainda assim, serei eu.

Ser lido não me faz poeta,
Dar vida as palavras
Que inquietantemente imploram
Por fuga, sim.

BrunoricO.

Breu.


As pessoas andam tristes,
Parecem prever o fim derradeiro.

É tudo tão avulso,
E os sentimentos andam tão sorrateiros.

É tudo tão confuso,
E os dias caminham tão rotineiros.

As retinas não parecem mais brilhar como antes,
Os casais não se amam mais como velhos amantes.

É tudo que vira nada,
É nada que vira nada de novo.

É a poeira que acumula na estante,
É a gota de esperança
Que seca em questão de instantes.
É o cavaleiro incerto
Que já cavalga de forma errante.
É a poesia incoerente,
Onde a vogal já não se entende com a consoante.

Tudo parece tão distante,
E o que está perto já não é o bastante.

As frustrações se acumulam,
Os sofrimentos se perpetuam,
Pessoas iguais ainda se rotulam.

É tudo que vira nada,
É nada que vira tudo de novo.

É a valsa que se deixou de dançar.
É o sonho que perdeu-se no caminho
E esquece-se de realizar.
É o objetivo traçado que se tornou alado
E não se conseguiu mais alcançar.

Quisera eu poder voltar,
Voltar para um tempo onde não se contava o tempo;
Voltar para o meu devido lugar,
Aquecer-me novamente no ventre
Que durante nove meses fora meu verdadeiro lar.

Está tudo tão frio,
Chego a sentir arrepio em pleno estio.
Os semblantes andam sombrios,
Ninguém mais defende o próprio brio.

Vez ou outra surge um suspiro de salvação,
Depois descobrimos que era tudo mera ilusão.

Alguns fogem para as igrejas
Para tomar sermão,
Outros correm na contramão
E terminam na prisão,
Mas a maioria ainda se encontra sem direção,
Pecando de dia e a noite pedindo perdão.

Só sei que o dia se tornou
Noite sem lua,
E a noite se tornou
Dia sem sol.

Tudo está tão escuro,
Tudo está tão igual.
Nada muda,
Nada mudará.

O que era benéfico se tornou finito,
Em contrapartida,
O breu parece um malefício infinito.

BrunoricO.

Medíocres virtuosos.

Enquanto acharmos
Que somos menos
Do que somos,
Nunca seremos
Realmente o que podemos ser.

Eis então a dúvida de um
Virtuoso ser:
Será mesmo que ele possui
As virtudes necessárias
Para poder viver?
Será que suas virtudes
Lhe garantem um pleno bel-prazer?

De fato, ele morrerá sem saber,
A não ser que com o passar dos anos
Ele viva colecionando virtudes
Até envelhecer,
E posteriormente morra
Como um virtuoso
Que não soube viver.

BrunoricO.

O fim do ex-capoeira.


Queimando a madeira,
Inalando uma carreira,
Fumando num cachimbo
A sua vida inteira.

Morando sem eira nem beira
Jogando sonhos na fogueira,
Parece um zumbi hipnotizado
No seu mundo de cegueira.

Antes o chamavam de mestre Pereira,
Hoje ele não passa de um
Ex-lutador de capoeira.
Virou soldado sem bandeira,
E atualmente se sustenta
Como batedor de carteira.

Mas o seu fim chegou;
E numa tarde de segunda-feira
Executaram o Pereira.
E ele ficou lá...
Jogado no chão quente feito lareira
Parecendo uma peneira.

Era a queda fatal do ex-capoeira,
Que teve sua luta final perdida,
Pois a morte havia lhe aplicado a última rasteira.

BrunoricO.