Poesia adormecida.

Papeis amassados,
Palavras riscadas,
Linhas que ainda
Não foram preenchidas.
Eis a poesia inexistente
Que o poeta ainda
Não tornou presente.

Tal poesia
Adormece inquietante.
E o poeta aguarda
Pelo instante
Em que ela despertará.

Mas se o sono for mais forte
E a poesia não se fizer forte,
A mesma terá decretado
A própria morte,
Deixando o pobre poeta
A mercê da sorte.

Só que o poeta
Não se fez de vencido,
E a Deus ele fez um pedido,
Pedindo-lhe inspiração.

Depois da oração
A poesia finalmente acordava.
O poeta enfim se alegrava
E entendia definitivamente
Que sem Deus não existe inspiração
.
BrunoricO.

Nuvem abstrata. (Dedicado)


Os pássaros vêm e vão
No compasso das folhas ao vento.

Folhas secas caem
No chão árido banhado
Pela chuva matutina.

No meio de um céu de nuvens abstratas
Eu avistei uma nuvem familiar.
Ela se movia com charme
Era graciosa e pomposa.
Dentre todas, era a única
Que possuía maestria
E até mesmo expressava alegria.

De alguma forma aquela simples nuvem
Me fez lembrar você.
De alguma forma aquela nuvem
Abstrata para os demais
Remeteu-me aos momentos únicos
Que passei me sentindo nas nuvens com você.

Pensando bem, aquela simples nuvem
Era apenas uma simples nuvem,
E nada mais.
Não foi a nuvem que me fez lembrar você,
Pois a todo momento lembro de ti,
Independente do céu estar nublado,
Ensolarado ou estrelado eu lembro de ti.
Mas foi a nuvem que me fez perceber
Que até mesmo no abstrato
Formas se criam com suntuosidade
Quando em minha mente
Você está presente.

BrunoricO.

O réu e o Juiz.

Deguste-me
Como um mendigo
Degustarias um banquete.

Ouça-me
Com a mesma atenção
Que o réu escuta o juiz.

Valorize-me
Como o burguês
Ao capital.

E se decidires
Por me julgar:
Julgue-me
Com as mesmas leis
Que julgas a si mesmo.

Pois só assim conferiremos
Com a mais pura certeza
Quem padecerá
No corredor da morte.

E se preciso for
Adaptaremos a cela
Para o juiz,
E a toga para o réu.
BrunoricO.