Folhas azuis.


No meio da imensidão de árvores na floresta,
Uma se destacava por seu estilo
Mais do que peculiar.
Era a árvore de folhas azuis;
Ao contrário das que a cercavam,
Tal árvore não possuía
Folhas verdes como as demais,
Suas folhas eram azuis,
Algumas mesclavam entre
Tons claros e escuros,
Mas todas eram azuis.

Por ser diferenciada
A árvore de folhas azuis
Era profundamente discriminada.
Os pássaros não faziam morada
Em seus galhos,
Os felinos não a escalavam
E as outras árvores dela não gostavam,
Pois a invejavam por ser diferente.

Certo dia um grupo de madeireiros
Resolveu cortar todas as árvores da floresta,
Mas preservaram a de folhas azuis,
Justamente por ela ser diferente.

Durante anos a árvore de folhas celestiais
Imperou impoluta como um ponto azul
Na imensidão da solitária floresta.
E como os pássaros
Que outrora a desprezavam
Não possuíam mais opção,
Restou-lhes apenas,
A eterna bajulação.

BrunoricO.


Comentário do autor: Os diferentes também possuem o seu valor e a sua beleza particular. Ninguém precisa e nem deve ser igual a ninguém; que chato seria o mundo se todos fossem iguais, pensassem e agissem da mesma forma. É preciso ser diferente , o mundo já está farto dos seres iguais.
Viva a diferença!

Fantoche.


De longe avisto o que de perto
Não conseguia ver nem de binóculo.
As agruras do tempo afastaram
De mim o desejo de querer o que realmente queria;
Com isso acabei querendo o que queriam
Que eu quisesse,
E acabei me tornando
O que queriam que eu me tornasse.

Hoje avisto os desejos perdidos
Em sonhos não sonhados
Por costume de me desacostumar
Aos apegos da alma.

Não sei ao certo se me tornei o homem
Que sonhavas ser quando criança.
Provavelmente não.
Tenho medo de ter frustrado
A criança que fui um dia.
Tenho medo de morrer
Sendo o que realmente sou.


BrunoricO.

Última poesia.

Apagaram as linhas
Póstumas do poeta.
Transformaram suas linhas de vida
Em rascunhos de morte.

Ele não era do tipo
Que causava boa impressão,
Cheguei a vê-lo andando maltrapilho;
Poeta de cara emburrada, amarrada,
Não sorria e nem chorava,
O rosto quase sempre
Parecia sem feição.

Morreu cedo, e morreu sem medo.
Morreu escrevendo tudo que sentia.
Antes mesmo de morrer
Confessou-me já ter escrito
Tudo que tinha pra dizer,
E justamente por isso
Já desejavas morrer.

Poeta de berço,
Tinha pelos versos
Um grande apreço;
Quando não escrevia nada
Num dia em que julgava inspirador,
Sua alma já vazia transbordava de dor.
Não aguentou longos dias
Sem escrever,
Já estava cansado de pegar na caneta
E não ter o que dizer.
Acabou morrendo ao lado de
Papeis amassados e rasgados.
Quando abriram tais papeis
Encontraram o seu último legado.
Sua face já esbranquiçada
Pela falta de vida ainda sorria.
Talvez fosse pela alegria
De morrer escrevendo a sua
Última poesia.
BrunoricO.

Último vagão.

Vagueio sem pressa
Pela plataforma do caos.

Enquanto a maioria corre,
Para o já lotado
Primeiro vagão,
Eu caminho a passos lentos
Para o tranqüilo
E vazio último vagão.


BrunoricO.

Comentário do autor: a maioria sempre caminha depressa quando o destino é o erro.
É muito mais fácil e prático seguir uma maioria, do que parar pra pensar sobre o que é certo ou errado. Muitas vezes um seguidor de multidões é um preguiçoso mental.

Ainda vejo vida.

Vejo VIDA na flor que nasce,
Na chuva que cai,
Na criança que ri.

Vejo VIDA no enfermo que ainda crê,
No analfabeto que aprendeu a ler,
No idoso que ainda quer viver.

Vejo VIDA quando vejo a aurora,
No mendigo que ainda chora,
No pecador que agora ora.

Vejo VIDA no explorado que peitou o capataz,
No viciado que já não se droga mais,
Na grávida que carrega a paz.

Vejo VIDA no que ainda sonha,
No que ainda clama,
No que ainda ama.

Apesar dos pesares
Ainda vejo vida.

BrunoricO.